terça-feira, 21 de julho de 2015

Livro das mil e uma noites I


Na noite seguinte ela disse: 

Eu tive notícia, ó rei venturoso, de que o rei, apesar daquilo tudo, tinha no coração um fogo que não se apagava e uma chama que não se ocultava, pelo fato de não haver sido agraciado com um filho varão que herdasse o reino após a sua morte. E nesse estado ele permaneceu durante vários anos. Então, já velho, estando certo dia sentado no trono do seu reino - cercado pelos notáveis de seu governo, pelos comandantes militares e pelos principais, todos sentados diante dele, e com os escravos e serviçais em pé a seu serviço, conforme o hábito, além do vizir, instalado a seu lado -, de repente entrou um criado e disse: "Ó rei do tempo, está à porta um mercador com uma jovem que serve para nosso amo, o sultão. Ele solicita conduzi-la à sua presença, e, se ela servir, ele a oferecerá a você. O mercador lembra que nesse tempo não existe mulher igual a ela, nem mais bela ou graciosa". O rei disse ao criado: "Traga o mercador à minha presença". O criado saiu e trouxe o mercador, que estava acompanhado de um dos secretários do rei, o qual o apresentou. O mercador beijou o chão e permaneceu inclinado. O rei ordenou-lhe então que se sentasse, conversou com ele e lhe dirigiu palavras afáveis, até que seu terror se acalmou e desapareceu o temor que o atingira devido à autoridade do rei. E essa é uma das marcas dos reis, líderes e sultões: quando algum mensageiro, mercador ou outro qualquer vem à sua presença resolver um negócio qualquer, eles o tratam com gentileza e afabilidade para que desapareçam os temores que o acometem devido à autoridade real. Em seguida, o rei encarou o mercador e disse...

E a aurora alcançou Sahråzåd, que parou de falar.


Livro das mil e uma noites. Vol. 2 - ramo sírio. trad. Mamede Mustafá Jarouche. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2008. p. 118-9



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