segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Bird

Charlie "Bird" Parker (1920–1955), o grande inquestionável gênio do jazz moderno, é mais do que um sax alto. Ele foi um revolucionário da música, cujas idéias dominaram praticamente tudo o que já foi escrito em jazz moderno desde o início dos anos 1940. Ele também foi uma alma vulcânica, cujas erupções jorravam, e ainda jorram, arrepios de admiração pela espinha de ouvintes e músicos. Seu caráter revolucionário deliberado fez obscurecer, temporariamente, suas raízes tradicionais: pois o que Parker toca é o blues não adulterado mais down que se pode conceber. Ele está para o jazz dos anos 1940 e 1950 assim como Armstrong está para a fase anterior. E essa figura quintessencial do jazz é, como Armstrong, originária do lumpemproletariado – nesse caso de Kansas City –, mas também, diferentemente de Armstrong, uma pessoa controvertida e deslocada. Um nômade, um drogado, um infeliz, um andarilho sem raízes que morreu aos 35 anos, o Rimbaud do jazz moderno.


HOBSBAWM, Eric J. História Social do Jazz. Trad. Angela Noronha. São Paulo: Paz e Terra, 2010. p. 164-5