segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Carta de Mário a Carlos

Trecho de carta de Mário de Andrade a Carlos Drummond, sobre Anatole France (um dos escritores favoritos da juventude do escritor mineiro):


Anatole ensinou outra coisa de que você se esqueceu: ensinou a gente a ter vergonha das atitudes francas, práticas, vitais. Anatole é uma decadência, é o fim duma civilização que morreu por lei fatal e histórica. Não podia ir mais pra diante. Tem tudo que é decadência nele. Perfeição formal. Pessimismo diletante. Bondade fingida porque é desprezo, desdém ou indiferença. Dúvida passiva porque não é aquela dúvida que engendra a curiosidade e a pesquisa, mas a que pergunta: será? irônica e cruza os braços. E o que não é menos pior: é literato puro. Fez literatura e nada mais. [...] escangalhou os pobres moços fazendo deles uns gastos, uns frouxos, sem atitudes, sem coragem, duvidando se vale a pena qualquer coisa, duvidando da felicidade, duvidando do amor, duvidando da fé, duvidando da esperança, sem esperança nenhuma, amargos, inadaptados, horrorosos. Isso é que esse filho da puta fez.



SANTIAGO, Silviano. "Mário, Oswald e Carlos, intérpretes do Brasil". Alceu, Revista de Cumunicação, Cultura e Política, v. 5, n. 10, jan./jun.2005


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Doutrina das cores

Por mais que pensem de modo diferente, observadores da natureza dignos de crédito concordam que tudo o que aparece, tudo o que se manifesta como fenômeno, deve indicar ou expor uma cisão originária, que pode ser unificada, ou por uma unidade primordial, que pode ser cindida. Cindir o que está unido, unificar o que está cindido é a vida da natureza, eterna sístole e diástole, eterna síncrese e diacrise, inspiração e expiração do mundo, no qual vivemos, criamos e somos.


GOETHE, Johann Wolfgang Von. Doutrina das Cores. Trad. Marco Giannotti. São Paulo: Nova Alexandria, 1993. p. 132