segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sobre a Glória

Não há exercício intelectual que não resulte em fim inútil. Uma doutrina é no início uma descrição verossímil do universo; passam-se os anos e é um simples capítulo – quando não um parágrafo ou um nome – da história da filosofia. Na literatura, essa caducidade final é ainda mais notória. O Quixote – disse-me Menard – foi antes de tudo um livro agradável; agora é uma ocasião de brindes patrióticos, de soberba gramatical, de obscenas edições de luxo. A glória é uma incompreensão e talvez a pior.

 BORGES, Jorge Luis. "Pierre Menard, autor del Quijote" in: Ficciones. Buenos Aires: La Nación, 1995. p. 68. (grifo nosso, tradução nossa).