terça-feira, 27 de outubro de 2009

Uma história policial sendo escrita


(a professora pediu a mim e à Carolina um livro infanto-juvenil como parte da nota semestral da matéria de Literatura Infanto-Juvenil. Eis)



Esta é uma história policial. Mas as protagonistas não são policiais.
Geraldo é detetive. Emílio é um funcionário público aposentado, amigo de Geraldo. Eles tomam muito café. Até que um assassino surge na cidade. Quem será o assassino, meu Deus?

- Antes de saber quem faria isso, a pergunta é: por quê?
- Por que assassinar clientes de restaurantes?
- Não, seu tolo! Por que sempre às quintas-feiras! O cara só mata de quinta!
Emílio põe mais mostarda no pastel. Emílio adora mostarda. O canto da sua boca denuncia isto


E sempre às quintas-feiras.

- Hoje é quinta-feira, sabe o que acontece toda quinta-feira?
- É dia de futebol, não?
- Claro que não... hoje é dia de sabermos qual restaurante terá mais um cliente morto!



Emílio e Geraldo, um gordinho desocupado e um solitário homem de meia-idade, tentam descobrir quem anda matando os clientes dos restaurantes em pleno horário de almoço. Isso antes que a imprensa descubra.

Geraldo saca uma lupa do bolso interno do sobretudo para ler melhor. Faz muito calor. O sol entra pela janela da Brasília, rebate na lupa, e o raio de calor atinge o jornal. O jornal começa a abrir. Começa a pegar fogo. Geraldo, friamente, joga o jornal no cesto de lixo da calçada. Sobra apenas o caderno de esportes. Do mês passado.


Geraldo volta a ler o jornal. Lê sobre o placar do campeonato estadual de peteca. Emílio questiona. Ele gosta de questionar, já percebeu?
- Que sentido faz ler um jornal do mês passado, Geraldo?
- E que sentido faz a vida, Emílio?
Ele não esperava por essa. Olhares catatônicos de ambos os lados.
- Emílio, você nunca ouviu dizer por aí que as notícias são sempre as mesmas? Que os fatos se repetem? Então, eu compro jornal uma vez por mês. Leio, releio, e economizo o dinheiro do café.




Um livro a quatro mãos. Ou a duas, pois ambos somos destros apenas.
Em breve, após eu entregar à professora e receber a nota, vocês lerão o livro mais pretensioso do ano. Só que ele ainda não tem nome.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Trecho de crônica

Escrevo à noite. Vem na aragem noturna um cheiro de estrelas. E, súbito, eu descubro que estou fazendo a vigília dos pastores. Aí está o grande mistério. A vida do homem é essa vigília e nós somos eternamente os pastores. Não importa que o mundo esteja adormecido. O sonho faz quarto ao sono. E esse diáfano velório é toda a nossa vida. O homem vive e sobrevive porque espera o Messias. Neste momento, por toda a parte, onde quer que exista uma noite, lá estão os pastores - na vigília docemente infinita. Uma noite, Ele virá. Com suas sandálias de silêncio entrará no quarto da nossa agonia. Entenderá nossa última lágrima de vida.

do Nelson Rodrigues.