sexta-feira, 28 de maio de 2010

Chesterton

"Ainda que os habitantes nada tivessem de 'artistas', tudo ali era artístico. Aquele rapaz de cabelos compridos e vermelhos e de feições impudentes não havia de ser necessàriamente um poeta, mas era irrefutàvelmente um poema (...). Por isso, e sòmente por isso, o lugar merecia estudos pertinentes e demorados; tinha de ser examinado menos como uma oficina de artistas do que como uma delicada, pôsto que consumada, obra de arte."


in: Chesterton, G.K. O homem que foi quinta-feira. Trad. José Laurênio de Melo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1958. pp 9-10.

dica da @keerolz

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Bastão de Simetria


Os fenícios não eram conhecidos por serem grandes guerreiros, na verdade eram melhores artesãos que guerreiros. Muita coisa leva a crer que os fenícios legaram à história dos povos e dos artefatos o Bastão de Simetria.
     Legado aos gregos ou aos macedônios, talvez com passagem pela ibéria, com certa passagem pelo oriente, com registros no sânscrito, o certo é que o Bastão de Simetria pertence, em análise última, à toda humanidade, ou, conforme as interpretações dos médio-orientais, a humanidade pertença aos artefatos mágicos).
     O Bastão é uma peça de madeira maciça, de tamanho e diâmetro em proporção áurea e de cor avermelhada. O atributo deste artefato é não permitir os movimentos do mais hábil manejador, e de igual maneira não permite o manejo do inábil.
     O guerreiro tem sua vontade anulada e seus gestos não fazem efeito, a peça é conduzida somente nas direções percebidas pelo universo, pela natureza ou pelo próprio bastão. De fato, a peça é quem conduz o manejador, em golpes de sacrifício, em leves acrobacias, sempre de maneira inédita e inequívoca. As mãos do soldado que a conduz são conduzidas, tendo este que adaptar seu corpo, seus gostos e preferências, sua mão de destreza aos movimentos orientados assim que o objeto é tocado, desencadeando seus movimentos lúcidos e simétricos.
     Dizem que estes movimentos já estão previstos em algum lugar, e que o Bastão de Simetria, perfeito na sua performance, reproduz o ordenamento divino da natureza e do cosmos, o que o tornou um oráculo para alguns povos do Mediterrâneo. Já foi considerado como umas das únicas maneiras de compreender A Divina Totalidade (o Tao dos chineses), e observá-lo ou tocá-lo poderia servir como cura a qualquer convalescência.
     É fato notório que alguns reis já tentaram utilizar tal artefato maravilhoso nas suas mais tenebrosas guerras, na certeza de saírem sempre vencedores, bastando para tanto ter a posse de um objeto que previsse a marcha da imensidão sideral. O que não perceberam de imediato foi a inutilidade do Bastão em ferir o adversário nas guerras, pois seus desígnios não previam qualquer movimento alheio aos seus princípios irracionais e secretos, o que na maioria das vezes não previa o ato violento. Logo os povos notaram que, em vez da guerra, o Bastão de Simetria servia muito mais para a dança, e passaram a incluí-lo apenas nos seus rituais do êxtase.


[Retirado de Fabra, António. "Artefactos blancos de la antiguidad". In: Encyclopaedia de los Artefactos y de la Magia. Madri: Mercador, 1912. p.82 - Tradução nossa]

terça-feira, 18 de maio de 2010

Memória

Há algo sim, e há só isto
que se confunde um pouco com o lamento,
que se escapa, que um dia já foi visto;
há a memória e há o esquecimento.