quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Kâlî

Kâlî é a deusa do terrível, da destruição, da noite e do caos. Ela é a patrona do cólera, dos cemitérios, dos ladrões e dos prostituídos. Ela é representada enfeitada com um colar de cabeças humanas cortadas, seu cinto é feito de uma franja de antebraços humanos. Ela dança sobre o cadáver de Chiva, seu esposo, e sua língua, da qual escorre o sangue do gigante que ela acaba de decapitar, está completamente estendida para fora da boca, porque ela está horrorizada de ter faltado com respeito ao gigante morto. Conta a lenda que sua alegria por ter combatido e vencido os gigantes a levou a um tal grau de exaltação que sua dança fez tremer e oscilar a terra. Chiva acorreu atraído pelo tumulto, mas como sua mulher havia bebido o sangue dos gigantes, sua embriaguez a impediu de vê-lo: ela o derrubou, submeteu-o a seus pés e dançou sobre seu corpo.


Georges Bataille. “Kâlî”, in: Documents, 1968, pp. 180

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Da banalidade da poesia

(Trecho extraído do Literaturwissenschaft Handbuch, 1972, de Arthur Hildebrand, grande estudioso da cátedra de Teoria Literária da Universidade de Munique, filólogo e espécialista na Althochdeutsch, aqui em tradução livre)

Ao reunir-se na mesma mesa dois bons dicionários de língua alemã, um dicionário de antonomásia e paronomásia, um dicionário de ideias correlatas, um dicionário de rimas e uma boa gramática descritiva, deduzimos que se torna completamente dispensável o trabalho de engenho do poeta, restando a este apenas a lavra de recolher as palavras de sua predileção (o que destarte se chamará o "estilo" do poeta) e montar o texto final, a que futuramente se denominará "poema".


Isso num tempo onde não se falava muito de "software", programas de computador, essas coisas.